Não há como negar que é preciso ter inspiração para escrever. Outras pessoas, músicas, últimos acontecimentos, lembranças do que já passou, expectativas na vida. O silêncio inspira. Passado, presente e futuro nos inspiram a escrever. Ou a nos calarmos.
Antes de começar com o blog, "escrevia" mentalmente, nos dias que antecediam as festas de final do ano. E ficava tomada por poesia, embalada pelas casas da Urca, por onde eu passava caminhando, no silêncio da tarde que ia embora e das luzes que enfeitavam uma árvore ou detalhes em janelas e portas. Ninguém mais por perto. Eu e o barulho nas folhas que se amassavam, quando as pisava.
Há um sentido único nessa fase do ano que, por mais que se tente não fazer tantos planos em torno de mais um dia e de mais uma festa, quando vemos estamos lá, completamente envolvidos, ouvindo mesmo que de longe aqueles sinos em músicas que lembram a infância, esperando que mais um pacote de presente esteja com o nosso nome.
O desencontro inspira, o encontro com o que já se conhecia também. Porque os reencontros nunca são iguais. Hoje me perdi em olhares conhecidos, mas novos, suaves, de beijos, de contemplação. Porque era dia de parar e esquecer o mundo lá fora, dia de renovar convívios, de perfumar a alma. Como que se faz isso? Não há receitas, é preciso sentir, não perder o momento, viver. O convívio pode ser a maior riqueza entre os seres humanos. Ou a pior das possibilidades. Simplesmente dependerá da forma como as pessoas se tratarem (ou se destratarem, mutuamente). Amigos, vizinhos, parentes, esposos, colegas de trabalho. A mais destruidora das formas de convívio é aquela que coloca sempre uma idéia a priori. E, a partir dela criam-se os fantasmas, os estereótipos, os preconceitos, a comunicação destorcida. E a confusão.
Em certos momentos, sinto vontade de gritar que eu quero a paz. Mas isso já se tornou tão comum, porque se fala em paz como se fosse uma palavra pronta e vazia. A falta de sentido no mundo. A paz, para mim, é um bem precioso, divino, extraordinário. Tudo porque só se consegue alcançá-la de dentro para fora. Duas coisas ocorrem: você pode estar bem, mas os outros e os acontecimentos lutam contra o seu perfeito equilíbrio; ou pode estar fechado para receber e perceber as boas intenções do mundo e das pessoas que estão ao seu redor. E duas atitudes podem ser tomadas. Quando a harmonia não depender de você, poderá mentalmente xingar o ser ou a circunstância que pretende acabar com a sua sanidade mental. Se tudo vai bem e você nem tanto assim, é melhor pensar antes de fazer pronunciamentos. Dias melhores virão. Só não vá perturbar a paz dos outros, assim como não gosta que terminem com a sua. Respeito é outra palavra cheia de significados construtivos.
E... muito bom ter acabado o horário de verão.
